Quero escrever, mas não tenho nada para dizer.
Ou talvez até tenha demais, mas não saiba como, ou o que exatamente. Sinto
muito, mas não sinto nada. Sinto um vazio em demasia, penso eu, nem sei, isso
faz me não sentir nada. Pelo menos nada que saiba descrever. Estava habituada à
intensidade, a intensidade de sentimentos. Era fácil escrever sobre o amor que
me enchia o peito, sobre a nostalgia que me percorria cada veia e sobre a dor
que as mesmas me causavam. Mas hoje já nada me escorrega pela ponta desta mesma
caneta. É confuso. Não sei como, nem quando foi que tudo mudou. Não sei isso
nem muitas outras coisas sobre as quais me interrogo todas as noites. Será que
tudo se foi? Ou permaneceu por este coração tanto tempo que se tornou natural?
Eu não sei e desconfio também que ninguém saiba.
E se eu já não sinto amor? E quando falo de amor, refiro-me aquele paradigma de
paixão entre um homem e uma mulher. Se não sinto a falta constante de ninguém
em particular, então porque continua a existir dias de angústia? Tempo para
refletir é coisa que não me falta, as noites são longas quando a falta de sono
me consome. Cheguei à conclusão de que a vida é inconstante e os seres humanos
mais ainda. Sofremos quando amamos, sofremos pela falta de amor tanto dado
quanto recebido. Somos uns indecisos e uns sofredores eternos. Queremos sempre
aquilo que não podemos ter. Amamos e sofremos com isso e assim desejamos não
sentir mais nada e quando isso se sucede, quando o vazio se instala, só
queremos poder sentir nostalgia, mágoa, arrependimento, porque isso significa
que possuímos algo. Que mesmo com todas aquelas coisas más, que o amor traz com
ele, à noite temos sempre um abrigo no abraço de alguém para onde voltar. E
somando os prós e os contras, um abraço dado com amor, carinho e preocupação
compensa quase tudo.
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